Teatropolitico60

teatro político, uma história de utopia – íntegra do documentário

Posted in Índice by teatropolitico60 on 30/03/2012

Palestra para estudantes do Colégio Estadual do Paraná

Posted in Sem categoria by teatropolitico60 on 29/03/2012

Por iniciativa do professor  de Sociologia Artur Conceição, alunos do ensino médio  do Colégio Estadual do Paraná assistiram, nesta quarta dia 28,  o documentário “Teatro Político, uma história de utopia”, seguido de palestra proferida por Ana Carolina Caldas –  roteirista, pesquisadora e produtora do  filme.

A palestra contou  com a participação especial de Zélia Passos. Personagem da história relatada no documentário, Zélia contou aos estudantes sobre esta experiência e também sobre os acontecimentos  na Ditadura Militar.  Ela enfatizou aos estudantes sobre a importância do protagonismo dos jovens no rumo da história. “Muitos me perguntam se os jovens dos anos 60 eram mais ou menos revolucionários dos que os atuais. Eu , sinceramente acho que cada época tem o seu motor da história, seus questionamentos e o jovem tem em si o poder revolucionário.” Zélia Passos foi uma das integrantes do grupo de teatro político em Curitiba.

Para Ana Carolina, iniciativas como esta são importantes principalmente pelo contato com os jovens. “Trata-se de uma história vivida pela juventude dos anos 60. Estudantes e artistas que desejavam através da arte fazer a revolução social. Levamos a mensagem e despertamos nos jovens a sua vocação revolucionária. Ao final fomos abordadas por estudantes que lamentavam o que chamaram de inércia da juventude atual e disseram ter vontade de fazer algo para mudar isso. ”

A palestra foi realizada no auditório do Colégio Estadual do Paraná para cerae de 300 estudantes dos segundos e terceiros anos do ensino médio.

 

Créditos das fotos: Arthur Conceição

50 anos do Centro Popular de Cultura – São Paulo

Posted in Sem categoria by teatropolitico60 on 13/12/2011

entrevista com luiz geraldo mazza

Posted in Índice, Entrevistas by teatropolitico60 on 09/02/2011

Jornalistas que escreviam sobre cultura na década de 60 em Curitiba deram seus depoimentos para o documentário “Teatro Político, uma história de utopia”. Entre os entrevistados, o jornalista Luiz Geraldo Mazza fala sobre jornalismo cultural exercido naquela época marcada pelas ideologias de esquerda, do nacionalismo e do comunismo e também pela irreverência nas artes e no jornalismo. Mazza escrevia na Coluna de Artes do Diário do Paraná e, em seu depoimento além de pontuar a análise crítica a respeito da arte engajada, conta casos pitorescos da rotina na redação do jornal.

O que era o jornalismo cultural que se fazia na década de 1960?

Mazza: O jornal sempre teve certa escora artística, literária desde a sua concepção. Por exemplo, o Diário do Paraná trouxe a técnica de diagramação através de um diagramador argentinho, o Benjamin Steiner. Era um artista de teatro, ficava representando trechos de Shakespeare na redação. Era um palhaço permanente. A redação do jornal era uma ribalta. Quem ilustrava as matérias? O Guido Viaro. Tínhamos outros, o Loio Pérsio que era da minha turma de Faculdade de Direito, um dos maiores artistas plásticos… Enfim, você tinha um ambiente todo propício para o envolvimento com todas as áreas, mas especialmente com as artes. Daí que surgiu um movimento de renovação artística que teve o Walmor Marcelino a frente deste movimento também. A gente utilizava a Biblioteca Pública e a gente debatia cinema, artes plásticas. Ia lá o cara explicar o que era o poema Processo. Eu me lembro que o Sebastião França colocou num quadro enorme a palavra SÓ. Aí ele falava: “vocês perceberam o espaço vazio, a idéia da solidão!”  E assim ia para todas as áreas. Mas a grande beneficiária foi a área da comunicação visual. Já tinha uma arregimentação boa por causa de um espírito contestatório, dos que embarcavam numa linha mais moderna. O próprio diretor do jornal, o Adherbal Stresser mirava-se no Assis Chateuabriand, este belíssimo gangster internacional, de um talento e cultura excepcional.

Como nós fomos vitimas e atores, emissões e receptores da Guerra Fria, havia uma empolgação com as questões políticas. E éramos engajados demais, inclusive de uma temeridade o que fazíamos. Um jornal que era sustentado pela cafeicultura, os acionistas com dinheiro, nós fazíamos este mesmo jornal dando pau nos tubarões capitalistas. E deixavam isso acontecer até onde puderam. Até que acho que em 61 a direita se organizou… A esquerda era este tipo de coisa, essa boêmia, essa maluquice, essa dispersão! A organização da direita vinha em duas frentes: o Instituto Brasileiro de Ação Democrática que era do Amaral Neto e tinha o IPES que era do Golbery, a cabeça do golpe de 64. E o que eles começaram a fazer? Começaram a tirar as pessoas de esquerda dos jornais. Devia ter um esquema de financiamento para isso… Aí começa um breque na história.

Mas daí vieram os experimentos. O Adherbal achava que a gente devia descarregar toda esta verve para um suplemento cultural que era o Eduardo Virmond que editava. Neste caderno escreviam o Sylvio Back, o Bettega, o Loio Pérsio, a Violeta Franco… Maioria destas pessoas eram militantes de esquerda. Inclusive, nós ingressamos em peso na época no Partido Socialista, na época que o partido comunista estava na ilegalidade.

Quando chegou à União Soviética o Sputnik, eu saudei o Sputnik num poema sobre a cachorrinha Laika:

No ventre da lua sintética. Danka (cachorra) flutua e abana irizada de espírito renascente.

Volta e meia a gente ilustrava a página com colagens, colocava poemas de amigos. Era assim nosso cotidiano. Mas com esse negócio da política, aí vem os equívocos. Em 62 surge o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, que era um negócio instrumentado pelo Governo João Goulart. Todo este contexto desta década, fomos tomando posições e éramos muito radicais.

Uma das tolices nossas na época era este prestigio que se faz ao chamado teatro político ou a arte engajada que é uma idiotice. Pois você veja o Preckhanof, o grande estudioso soviético marxista, ele mostra que essa história da arte pela arte e da arte chamada útil corre por circulo.

E a tua história no jornal como foi?

Eu era do Estado do Paraná. Era pago para escrever crônicas. Eu não tinha relação de emprego e o que os meus colegas ganhavam em um mês eu ganhava em uma crônica por semana. Eu tinha uns 23 anos. Quando veio o Diário do Paraná, o Adherbal Stresser me convidou e lá eu ocupei várias funções. No Diário tinha o pessoal de esquerda e outro pessoal mais à direita. E era uma briga entre nós. Eu mesmo perdi o emprego no Diário do Paraná por me envolver num troço puramente ideológico. O Adherbal Stresser ia para os Estados Unidos encontrar o Chateaubriand que estava dentro de um tubo de oxigênio, com derrame, um AVC pesado. E o Adherbal ia levar o jornal para ele.

Foi lá na redação o Vinholes, um comunista amigo nosso que era gerente da Livro Brás (que ficava ali onde era o Clube Curitibano) e levou para mim, uma Manifestação dele do movimento nacionalista. Resolvi colocar a manifestação no jornal! Para evitar que o secretário do jornal visse passei direto para um redator. E não é que sai na primeira página do jornal? Aí começou, veio o Emilio Zóla Florenzano, com uma cara de Madalena arrependida e pergunta quem é que tinha feito aquilo e tal. Todo mundo tava com medo de perder o emprego. Eu disse: “Vai lá para o Adherbal Stresser e diga que foi a redação!” E aí é que os caras ficaram com mais medo ainda. Mas logo depois já assumi que eu é que tinha feito.

A demissão foi uma coisa penosa pra mim, porque nós gostamos demais disso que a gente faz. É o trabalho e lazer juntos! O jornal é um negócio burlesco, um negócio maluco!

A gente fazia de tudo na redação, a gente dançava balé… O Benjamin Steiner que era um cara engraçadíssimo, um dia no meio do trabalho começa a tossir que parecia que estava tendo uma apoplexia! Era um artista! Fomos todos ao redor dele para saber o que ele tinha. Aí ele tira uma calcinha lá da garganta! O jornal era assim, quando você menos podia esperar acontecia uma doidice dessas.

E o que vocês escreviam era reflexo daquela época. Tinham algum cerceamento no Diário do Paraná…

A gente fazia o que queria, o que era de uma imprudência! E inclusive meio fascista. Eu vejo que você fala de Brecht. O Brecht era um cara que tem toda uma história e talento que não se pode negar, mas, por exemplo, aquele texto dele Analfabeto Político… Aquilo lá é a coisa mais fascista! Fascista por que éramos uma fábrica de ideologias. A gente perde até um pouco de humanidade. Você começa a ser intolerante, perde a noção do outro.

Mas hoje o jornal é diferente… tem toda uma organização, perdeu aquela confusão que era, perdeu os bêbados nas redações, aquela irreverência.

Falando nisso, lembro de um dia no jornal o Ronald Stresser, filho do Adherbal. O Ronald marcou um encontro com uma negrona lá no jornal. E ele não chegava. Pra não a deixarela esperando, ligamos o rádio e cada um dançava com ela. O cara da diagramação tinha uma bronca com o pessoal da redação e nos denunciou para o Adherbal. Chegou de manhã fomos chamados para uma reunião e ele começa a perguntar. Então o Virmond fala: “Seu Adherbal foi o seguinte: logo depois do balé do Mazza…” Porra, balé do Mazza! Deu impressão que era o verdadeiro Teatro Revista na redação. Aquilo tudo era uma coisa maravilhosa!

Naquela época se discutia muito a função social da arte. Pra você, é possível dizer qual é a função?

Toda arte tem função social. O engajamento pode ter sentido em uma época, como em outro pode não ter. E pode também produzir má arte. Eu prefiro Ferreira Gullar não comunista escrevendo abstrações, por exemplo. Mas naquela época a arte falava destas coisas que nós discutíamos, e como não tinha rebate, ficávamos nos debates entre nós. Acabou que virou menos arte e sim uma fábrica de ideologias.

Teve o movimento de Teatro Político aqui em Curitiba que defendia a arte engajada. Um grupo que  começa  fazendo uma peça do Vianinha sobre a Revolução Cubana…

O Walmor Marcelino era dessa turma do teatro político em Curitiba. Era um apaixonado, o Walmor morreu apaixonado. Tudo aquilo que eu via de equívoco, ele não via. Agora à distância a gente vê que também tinha outro lado… as pessoas que faziam aquilo achavam que estavam revolucionando. Como eu quando ia para um comício… nós não conseguíamos colocar dez pessoas na rua! A gente achava que estava falando urb at orbe que nem o Papa para uma multidão! Mas tinha meia dúzia nos escutando.

Eu me lembro de debates na redação também sobre estes temas. Um deles sobre uma peça do Vianinha, Chapetuba Futebol Clube. O René Dotti escreveu um artigo analisando só pela ótica do futebol (a peça é sobre dois times de futebol e o pano de fundo é a divisão de classes) Claro que era uma alegoria! Mas aí a turma do jornal colocou no debate a questão da luta de classes. Aí veio o Jairo que foi cassado nacionalmente (eu também fui cassado, mas só que provincianamente) e escreve outro artigo pra rebater o do René Dotti, com o titulo “Chapetuba não é futebol”. E no final das contas quem “jogou futebol” pra nos defender na ditadura foi o René Dotti.

Então tinha de tudo… o Walmor com aquela ânsia de abraçar as idéias da esquerda, falava e escrevia sobre Brecht, Stanislavski…nada com muita profundidade, até porque ele, como eu, era jornalista e temos isso. Jornalista não aprofunda, fica na superficialidade… Diferente de agora, que tem uma turma boa. Tem esse rapaz que escreve nas sextas feiras na Gazeta, aquilo é literatura, é jornalismo do Gay Talese…

Mas eu me lembro do Walmor que esteve á frente de algumas peças, como por exemplo, Os Justos de Albert Camus. Inclusive ele foi criticado duramente pela francesa Madame Garfunkel, uma mulher culta que conhecia a obra de Camus. Ela criticou por que eles alteraram inclusive o comportamento do personagem. Ela deu um cacete! Mas isso tudo era bom! Era um experimentalismo interessante.

Como você caracterizaria este movimento na época?

Acho que era algo que estava respondendo a um sentimento do momento. E aí surgem várias instituições ideológicas, com o ISEB e também o CPC da UNE. O CPC era o ISEB voltado para arte. Tem suas vantagens e equívocos decorrentes do rigor da posição que mantinham. E não dá para desconsiderar a importância. Nós naquela época nos reuníamos na biblioteca e inventamos várias coisas como o Clube do Cinema… E até nisso era uma complicação. A gente defendia o cinema do realismo italiano, o resto não valia. Até chegar a Nouvelle Vague francesa levou tempo. Pra você ver como era complicada essa coisa de arte engajada!

E esse momento deixou alguma herança?

Acho que você não pode abominar algo que fez. Dizer “Ah eu era um palhaço”. Mas cabe fazer a autocrítica e saber que estávamos vivendo um momento, a história. Quando os americanos queriam executar o Casal Rosemberg acusados de transferir segredos nucleares para a União Soviética, acontece uma assembléia no Centro Acadêmico Hugo Simas, de Direito da Universidade Federal. Ai vinha a direita dava cacete…daí sabotavam, desligavam a luz. Mas sabe o que nós queríamos? Mandar um telegrama pedindo a comutação da pena. Ficamos até de madrugada lutando feito bárbaros, mas no final conseguimos aprovar o telegrama. Aí saímos na rua , caindo o orvalho da madrugando e fomos cantando a Internacional…Isso acontece até hoje, ou seja, não mudou nada. Mas era importante fazer parte daquilo tudo! Foi um momento vivido!

Voltando para a cena cultural da Curitiba dos anos 60. Quem você apontaria como destaque no teatro desta época?

Tinha o Oraci Gemba, um cara que era comunista, foi diretor do Teatro Guaíra, era bancário e sempre participava dos debates políticos. Porém, soube separar isso no trabalho artístico, tinha um cuidado com a estética e foi completamente diferente do que fez este pessoal. Tinha também o Jiomar José Turin, fez o teatro universitário aqui com o Armando Maranhão – que era um grande animador do teatro. Mas isso vem antes de 50 e cresce. Minha irmã Marlene Mazza era do teatro e uma época a Sociedade Paranaense de Teatro se reunia na casa onde eu morava. Aparecia lá o Ary Fontoura, o René Dotti, o Sinval, o Mauricio Távora e tantos outros. Mas esse povo todo que já fazia teatro desde 50 não tinha preocupação política. Essa preocupação vem com o acirramento da Guerra Fria… daí sim, se na Universidade eu não falasse em revolução eu levava vaia! Você veja o que aconteceu nos Festivais de Música, se as engajadas não ganhassem… Tinha que ganhar lá o Pra não dizer que não falei das flores. E a melhor do Geraldo Vandré não é esta, é Disparada!

Vídeo: Tulio ViaroFotos: Gilson CamargoEntrevista: Ana Carolina Caldas

entrevista para TV UFPR sobre documentário “Teatro Político, uma história de utopia”

Posted in Entrevistas by teatropolitico60 on 04/02/2011

Ana Carolina Caldas,  pesquisadora e produtora responsável pelo conteúdo do documentário “Teatro Político, uma história de utopia” concedeu entrevista para a TV UFPR. Ana Carolina baseou o documentário na sua dissertação de mestrado defendida pelo Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná. Confira a entrevista no 2º bloco, clique aqui

Documentário sobre Teatro Político em Curitiba será exibido no Cinema do Museu da República, Rio de Janeiro

Posted in Índice by teatropolitico60 on 17/01/2011

O documentário “Teatro Político, uma história de utopia” será exibido no dia 20 de janeiro no Cinema do Museu da República no Rio de Janeiro. O documentário conta a história do movimento de teatro político na Curitiba dos anos 60 liderado  por estudantes , lideres do movimento estudantil, artistas e intelectuais. E na sua última etapa , em 1962, passa a ser mais um dos Centros Populares de Cultura da UNE, idealizados por   Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, que desejava fazer um teatro nacional popular. Apoiados pelo Governo João Goulart, estudantes e artistas, através do projeto UNE Volante, viajam o Brasil inteiro com dois objetivos: debater a Reforma Universitária e formar por todo o Brasil os CPCs da UNE. Aqui em Curitiba os integrantes do  mesmo grupo que desde 1959 já fazia teatro político pelas ruas da cidade aceitam a missão e forma mo Centro Popular de Cultura da UNE paranaense, e inovam ao aliar o  teatro de bonecos com a alfabetização de adultos.

Por este motivo nosso filme fará parte da Bienal da UNE durante a  Mostra em Comemoração aos 50 anos do Centro Popular de Cultura da UNE.

Com 12 anos de idade e chegando à sua sétima edição, a Bienal da UNE se consolida hoje como o principal encontro da juventude brasileira. A 7ª Bienal terá como sede a cidade do Rio de Janeiro. Suas atividades serão realizadas entre os dias 18 e 23 de janeiro.Reunir as diversas expressões artísticas, valorizar a identidade nacional e conectar as produções juvenis de todas as regiões do país são algumas das propostas que envolvem este grande projeto, considerado hoje o maior festival estudantil da América Latina.

Se você estiver no Rio, a mostra será dia 20 das 17h ás 19h no Cinema do Museu da República. Avise os amigos!

Site Bienal da UNE http://www.une.org.br/

IV Seminário do Patrimônio Imaterial de Curitiba – dias 18 e 19 de novembro

Posted in Sem categoria by teatropolitico60 on 18/11/2010

estréia do documentário – cinemateca de curitiba – 13/09/10

Posted in Índice by teatropolitico60 on 20/10/2010

“Teatro Politico, uma história de utopia”  voltará a ser exibido na Cinemateca de Curitiba, nos dias 22, 23 e 24 de outubro  – às 15h45 e às 18 hrs. Entrada franca.


A estréia do documentário “Teatro Político, uma história de utopia” aconteceu no dia 13 de setembro na Cinemateca. Muitas pessoas estiveram presentes, entre elas estudantes, jornalistas, artistas e também alguns dos personagens desta história que fala do sonho de fazer o teatro um instrumento revolucionário. Jovens estudantes na Curitiba dos nos 60 inspirados pela Revolução Cubana que acabava de acontecer resolveram ir para as ruas encenar peças que falassem ao povo destes ideais.

Antes da exibição aconteceu um bate papo sobre o tema com a participação de Ana Carolina Caldas ,  pesquisadora e roteirista do documentário, de Euclides Coelho de Souza –  fundador do movimento de teatro político em Curitiba e do músico Octávio Camargo responsável pela trilha sonora e direção da peça Os Justos ( reencenada para o documentário).

Ana Carolina ressaltou a importância do Edital de Patrimônio Imaterial , criado pela Fundação Cultural de Curitiba, que subsidiou o projeto.  “O processo de pesquisa para o documentário revelou entre as obras já escritas uma lacuna na história do teatro em Curitiba. Esta história que estamos apresentando hoje nunca antes havia sido contada.” O documentário origina-se da dissertação de mestrado defendida pela pesquisadora em 2003, na área de História da Educação pela Universidade Federal do Paraná.A pesquisadora explicou que foi naquele momento, em 2003,  que teve o primeiro contato com os personagens da história e destacou a importância de Euclides Coelho de Souza, o Dadá. “Eu fui desenrolando o novelo desta história, aos poucos encontrando os personagens todos e muito com a ajuda do Dadá. A primeira vez que eu o encontrei foi no teatrinho de bonecos no Bosque Gutierrez e lá ele me fez perceber o quanto era importante fazer este resgate.”

Euclides Coelho de Souza, o Dadá,  na década de 60 era estudante de engenharia e secretário da juventude comunista. Emocionado, durante o bate papo, ele contou alguns capítulos desta história protagonizada por ele e seus amigos, e enfatizou a importância da pesquisa feita por Ana Carolina Caldas. “Isto é importante que vá para todos os lugares e que possa inspirar a juventude de hoje que anda um pouco apática.” disse. Euclides também homenageou o amigo Walmor Marcelino (falecido em 2010) que ao lado dele  conduziu o movimento de teatro político.  “Era alguém que eu gostaria que estivesse aqui, ele foi nosso professor”

” Na verdade isso começou com a invasão americana em Cuba; e então, como reagir? Os jornais, na maioria reacionários, não falavam nada sobre Cuba. Tinha uma advogada no Partido Comunista, a Terezinha Garcia, que era metida assim com os intelectuais, chegou um dia para mim e me disse: “Olha, li no “O Semanário” uma peça de teatro chamada “Pátria o Muerte”, do Vianinha, vamos montar esta peça!” Montamos a peça na sede do Partido Comunista. Um cara conseguiu um caminhão para gente ir em cima e apresentar na rua. E tinham muitos artistas que trabalhavam com o Maranhão, que era do Teatro dos Estudantes do Paraná e era da base do partido. O que eu fiz? Eu era o secretário da Juventude do Partido. Falei com o Secretário  Geral  e disse a ele: Vou chamar todos eles e colocar aqui. Veio todo mundo e começamos os ensaios.

Eu que era apenas o coordenador daquilo tudo passei a ator. Na peça tinha o Fidel Castro e o cara que ia fazer o Fidel brigou com o diretor. Faltando dois dias para estrear a peça o rapaz foi embora. Eu fui a vítima e tive que ser o Fidel. Tinha pelado o cabelo, estava sem barba… lá vou eu ser o Fidel Castro, o que me valeu alguns dias de cadeia só por isso (…)” – Euclides Coelho de Souza Responsável pela reencenação da peça Os Justos e a trilha sonora para o documentário, o diretor e músico Octávio Camargo falou sobre esta experiência e também sobre o conceito de teatro político. Para Octavio, “o texto Os Justos encenado pelo grupo de teatro político em 1960 traduz muitos dos temas que permanecem como preocupações e dilemas da sociedade. Um texto que fala de opressão e da luta por justiça social.”  O conceito de teatro político se traduz para o artista, segundo Octávio, “como a própria expressão e olhar que dá ao texto e o que vive em seu momento. Encenar Os Justos nos anos 60 logo após a Revolução Cubana é diferente de fazer agora em 2010. Este é o posicionamento político que se dá. “

Para contextualizar o sentido da arte política, Ana Carolina finalizou o bate papo com um depoimento de Diego Rivera – pintor que foi filiado ao PC mexicano. Em um manifesto escrito em 1938 ao partido, ele escreve:  “pela liberdade de criação não tratamos , de modo algum, de justificar o indiferentismo político e que está muito distante de nossa mente querer ressuscitar uma suposta “arte pura” que, ordinariamente, serve aos fins impuros da reação. Não. Temos uma idéia demasiado alta da função da arte para negar-lhe influência sobre a sorte da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte, em nossa época, é participar consciente e ativamente na preparação da revolução. Entretanto, o artista só pode servir na luta emancipadora se se deixou penetrar subjetivamente por seu conteúdo social e individual, se levou a seus nervos o sentido e o drama daquela e se trata livremente de dar uma encarnação artística a seu modo interior.”

Como parte do projeto, há também uma exposição de painéis textuais que conta cronologicamente e de forma didática a história sobre o teatro político em Curitiba. Após a estréia, o documentário e exposição foram apresentados para alunos de ensino médio em colégios estaduais da cidade.

Fotos: Gilson Camargo


Créditos do Filme

Direção e edição: Tulio Viaro

Pesquisa e roteiro: Ana Carolina Caldas

Montagem: Adalgisa Lacerda

Fotografia: Gilson Camargo

Realização: Lei Municipal de Incentivo a cultura

Participação

Adair Chevonicka

Alcidino Bittencourt

Artur Poerner

Edésio Passos

Euclides Coelho de Souza

Ferreira Gullar

Marly Genari

Mazza

René Dotti

Zélia Passos

Elenco da peça Os Justos

Chiris Gomes

Chiristiane Macedo

Maureen Miranda

Direção: Octávio Camargo

Cenário e figurino: Marcelo Scalzo

Trilha Sonora

Octavio Camargo ( piano)

Endrigo Bettega ( bateria)

Vozes:

Chiris Gomes

Troy Rossilho

Helena Portela

Katia Horn

Luiz Felipe Leprevost

Alexandre França

Agradecimentos

Fundação Cultural de Curitiba – Cinemateca- Biblioteca Pública do Paraná – Funarte – Lu Rufalco (Teatro Guaíra) – Edson Bueno – Clinica Pro Music


Convite: documentário “Teatro Político:uma história de utopia” na Cinemateca dia 13/09

Posted in Índice, Espetáculos by teatropolitico60 on 08/09/2010

Você está convidado (a) para partcipar da estréia do documentário “Teatro Político: uma história de utopia”, no dia 13 de setembro de 2010, às 19 horas na Cinemateca. A história de um movimento político e artístico realizado na Curitiba dos anos 60, por artistas, estudantes, intelectuais e jornalistas que acreditavam no teatro como instrumento revolucionário. Depoimentos de ex integrantes como Euclides Coelho de Souza (Dadá do Teatro de Bonecos), Zelia Passos, Alcidino Bittencourt, Marly Genari e relatos de jornalistas que escreviam sobre cultura na década de 60, como Mazza, Edésio Passos e René Dotti. O documentário conta ainda com a partcipação especial de Ferreira Gullar e de Artur Poerner, escritor do livro “O Poder Jovem” e jornalista do JB. As peças teatrais encenadas na época são reencenadas para o documentário pelas atrizes Chris Macedo, Maureen Miranda e Chiris Gomes com a direção de Octávio Camargo, cenário e figurino de Marcelo Scalzo.

Antes da exibição haverá um debate sobre o teatro político com a partcipação da pesquisadora do documentário Ana Carolina Caldas, do fundador do movimento de teatro político Euclides Coelho de Souza (Dadá) e do músico e diretor Octávio Camargo.

FICHA TÉCNICA: direção e edição de Tulio Viaro, pesquisa e roteiro de Ana Carolina Caldas e fotografia de Gilson Camargo.

entrevista com marly genari

Posted in Índice, Entrevistas by teatropolitico60 on 01/09/2010

Marly Genari é médica e integrava na década de 1960 o Comitê Estudantil do Partido Comunista. Conta em seu depoimento que a participação no movimento de teatro político serviu para que tivesse a certeza de que a arte é fundamental para conscientizar o povo de sua realidade. Relata que a experiência no teatro de rua, em cima de um caminhão, pode ter servido mais a eles, jovens atores amadores, do que para as platéias nas ruas, praças e até em saídas de jogos de futebol. Coincidência ou não, sua filha Ana Rosa é em Curitiba importante atriz engajada no teatro de rua.

Cada um com o seu momento. A gente fazia uma tentativa de sensibilizar o povo para prestar atenção aos desmandos políticos e que haviam outras alternativas. Como a gente era comunista, a alternativa era o regime comunista, era Cuba…

Eu era da juventude comunista. Havia então uma necessidade de comunicar que existia uma diferença que poderia modificar alguma coisa, que melhorasse a vida do povo. O teatro era a forma mais redundante de fazer isso, de comunicar, então  a gente reunia o nosso pessoal no caminhão e através do teatro falava de questões políticas e sociais, as alternativas e principalmente como o povo poderia ajudar a modificar aquela situação, de fazer justiça social.

Eu estudava medicina na época, então a maior parte dos que faziam este teatro eram universitários, e éramos do Comitê Estudantil do Partido Comunista. Era uma coisa de querer fazer justiça. Quando eu era bem menina, fazia ainda o ginásio, eu já lia muito sobre Marx. E meus irmãos, todo mundo lá em casa estava preocupado com as questões sociais.

Em 1959, Euclides Coelho de Souza (o Dadá do Teatro de Bonecos)  era da juventude comunista em Curitiba e uma das tarefas a que se propôs foi a criação de um grupo de teatro com atores e estudantes. A história começa quando a advogada Terezinha Garcia (da direção do PC), a partir de uma notícia do Jornal O Semanário  sobre a apresentação da peça “Patria o Muerte”, de Vianinha, no Rio de Janeiro, sugere a ele que montem a peça para divulgar  a Revolução Cubana na cidade. Marly se integra ao grupo que sai com um caminhão fazendo o que chamavam de “representações comícios”.

Nós éramos jovens e tinha no partido o pessoal mais experiente, advogados, jornalistas, várias pessoas com formação mais avançada que a nossa e, naturalmente, mais informados que nós. Foram eles que nos trouxeram a idéia do teatro de rua, de subir em caminhão para fazer teatro. Criamos um grupo chamado Teatro do Povo. Trouxeram inclusive uma pessoa que era do Rio Grande do Sul para ajudar na montagem da peça (o jornalista Walmor Marcelino), essa pessoa nos ajudou a ter o conhecimento do que a gente chamava de representação relâmpago.

Os dirigentes queriam a força da juventude que era muito presente. Então eles de alguma forma usavam sim para os fins políticos nosso poder de comunicação e de convencimento. Por isso eles se preocupavam muito em a gente saber das coisas. Até nas dependências da Igreja do Largo da Ordem a gente teve aulas de marxismo…

Eu me lembro que o caminhão tinha uma rampa para gente subir e descer rapidinho. E o nosso figurino eram placas. Então o Batista tinha a placa na frente, daí tinha o Che Guevara, o Fidel Castro…

E tinha também “o povo”, que eu fazia parte. A gente ficava atrás, com a plaquinha que dizia que a gente era povo. E nós sempre falávamos em coro, porque era para dar a voz forte do povo!  Éramos umas cinco ou seis vozes nesse coro que tinha que se contrapor com as vozes únicas daqueles outros personagens. Era sobre Revolução Cubana, sobre a decadência do Fulgêncio Batista. Eu me lembro deste personagem que era muito sofisticado e dizia que queria reunir as pessoas nos salões cor de rosa, depois no salão azul, no amarelo. E, isso mostrava a sofisticação dele, a frivolidade e o povo atrás reclamando e gritando por suas necessidades e por uma modificação.

A gente se reunia para preparar isso e as falas eram muito importantes. Insistiam muito na fala, nos acentos, na boa pronúncia. O mais importante era expressar as idéias. A representação de fato era mínima, era a palavra mesmo. A coreografia, os movimentos eram feitos em cima de um caminhão então não dava para exigir muito.

Uma vez a gente esperou a saída de um jogo de futebol e nós ficamos na frente do estádio. O pessoal saindo e a gente já estava pronto para começar. Era um prazer fazer teatro. Além de levar a informação para o povo, era muito gostoso tudo aquilo. Eu lembro que o convívio entre nós também era muito prazeiroso. A gente ria muito um do outro.

A gente achava que porque começou na América a Revolução, a gente tinha que acabar com essa coisa dos Estados Unidos mandar no Brasil. Por isso quem era comunista não podia ouvir música americana, apesar de eu gostar muito, dançar rock feito louca! A patrulha ideológica era terrível! Mas, a gente achou sim que iria também acontecer no Brasil…

Walmor Marcelino escreve em seu livro “Malvas, Fráguas e Maçanilhas”,  que entre as companhias teatrais que iniciaram encenações em bairros, o Teatro do Povo (grupo que surge no Partido Comunista) surgiu dando maior ênfase ao político, queria ser um teatro político e popular. Os recursos das placas dizendo quem era quem demonstrava maior preocupação em prestar a informação ao público mais do que a estética propriamente dita. Apesar de ser esta a intenção desejada por Walmor, para Marly  não é  possível dizer se o que faziam chegava e conscientizava de fato ao público.

Eu era o povo, a nossa fala era curta e quem contava mais a história eram os outros personagens, por isso dava para perceber melhor a reação da platéia. Eles ficavam muito ligados, mas, eu não tenho certeza se eles faziam a sobreposição da situação que talvez eles estivessem vivendo com a história da peça. A gente não conversava no final, não queríamos nos expor muito. A gente saía rápido dali… porque naquela  época o Partido Comunista não era reconhecido, nós reivindicávamos a legalização do partido e tinha toda aquela propaganda que comunista comia criancinha, essas coisas todas… na verdade, o povo em si não gostava muito de história de comunistas… então a gente defendia a história de Cuba demonstrando que quem reivindicou a mudança naquela ilha foi o povo, o camponês, o operário, o estudante que passou a ter voz ativa na sociedade.

A politização das artes na década de 1960 criou também o que podemos chamar de teatro circunstancial, ou seja, um teatro que naquele momento, tinha quase que como dever explicitar conteúdos políticos devido ao apelo do engajamento à causa do nacional popular. Há quem tenha caracterizado isso como romantismo. Marly concorda com a tese, mas acha que era e é próprio da juventude e da época. Apesar da reavaliação crítica sobre a experiência, afirma que tudo valeu a pena.

Eu diria assim que era uma visão muito romântica, era um sonho. Como jovens acreditávamos que poderíamos mudar alguma coisa, e as pessoas mais velhas que traziam a informação para gente eram incentivadoras disso. Também eles eram sonhadores. Isso foi muito importante para mim. Nunca deixei de ter um olhar social, tanto profissionalmente como pessoalmente. No tempo em que a gente freqüentava as reuniões da juventude comunista, tínhamos aula de antropologia, sociologia, pessoas importantes vinham dar estes cursos. E, isso a gente carrega para sempre por que conhecimento é uma fortuna! Sempre valeu a pena… eu nunca deixaria de aconselhar os jovens a sonhar….

E para você, existe função social da arte?

Eu vou só citar um fato. Quando eu ainda morava no Acre, foi criada a Faculdade de Medicina  por lá. E a Ana Rosa, minha filha disse: “Ô Mãe, essa história de faculdade de Medicina tinha que estar em segundo plano, porque o que modifica uma sociedade é a arte; eu faria uma Faculdade de Artes! Eu falei, ela tá certa, e olhe que eu sou médica. Médicos dava para levar tantos quantos fossem necessários, era só pagar um bom salário. Mas, primeiro a Faculdade de Artes, todas as artes. Pra modificar, para levar conhecimento, ampliar o universo cultural do povo.

Vídeo: Tulio ViaroFotos: Gilson CamargoEntrevista: Ana Carolina Caldas

Nota: Posteriormente, o Teatro do Povo – grupo constituído junto ao Partido Comnista se transforma em Sociedade de Arte Popular, agora tendo á frente o jornalista Walmor Marcelino, decide se tornar independente do partido. Com esta nova formação, montam a peça “Os Subterrâneos da Cidade”, escrita e dirigida por Walmor. Depois encenam as peças “A Prostituta Respeitosa” e “Os Justos”, no intuito de se tornarem um grupo teatral e aprofundarem os  seus conhecimentos, organizam um curso no Teatro Guaíra, para eles mesmos e outros novos interessados. A imprensa local, em 1961 noticia o encerramento do primeiro curso intensivo da SAP, com a duração de um mês, abrangendo aulas de dicção, inflexão, esgrima, figurino e interpretação, contando com a participação de doze alunos: Newton Carlos Grillo, Anita Karvat, Alceu Wildner, Leonidas Moscibrocki, Oraci Gemba, Dorval Gago Lourenço, Josus Barbosa, Wilza Previde, Alcidino Bittencourt Pereira,  Euclides Coelho de Sousa, Maria Rachel Sovinski, Maria José de Oliveira e Zélia Passos.