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estréia do documentário – cinemateca de curitiba – 13/09/10

Posted in Índice by teatropolitico60 on 20/10/2010

“Teatro Politico, uma história de utopia”  voltará a ser exibido na Cinemateca de Curitiba, nos dias 22, 23 e 24 de outubro  – às 15h45 e às 18 hrs. Entrada franca.


A estréia do documentário “Teatro Político, uma história de utopia” aconteceu no dia 13 de setembro na Cinemateca. Muitas pessoas estiveram presentes, entre elas estudantes, jornalistas, artistas e também alguns dos personagens desta história que fala do sonho de fazer o teatro um instrumento revolucionário. Jovens estudantes na Curitiba dos nos 60 inspirados pela Revolução Cubana que acabava de acontecer resolveram ir para as ruas encenar peças que falassem ao povo destes ideais.

Antes da exibição aconteceu um bate papo sobre o tema com a participação de Ana Carolina Caldas ,  pesquisadora e roteirista do documentário, de Euclides Coelho de Souza –  fundador do movimento de teatro político em Curitiba e do músico Octávio Camargo responsável pela trilha sonora e direção da peça Os Justos ( reencenada para o documentário).

Ana Carolina ressaltou a importância do Edital de Patrimônio Imaterial , criado pela Fundação Cultural de Curitiba, que subsidiou o projeto.  “O processo de pesquisa para o documentário revelou entre as obras já escritas uma lacuna na história do teatro em Curitiba. Esta história que estamos apresentando hoje nunca antes havia sido contada.” O documentário origina-se da dissertação de mestrado defendida pela pesquisadora em 2003, na área de História da Educação pela Universidade Federal do Paraná.A pesquisadora explicou que foi naquele momento, em 2003,  que teve o primeiro contato com os personagens da história e destacou a importância de Euclides Coelho de Souza, o Dadá. “Eu fui desenrolando o novelo desta história, aos poucos encontrando os personagens todos e muito com a ajuda do Dadá. A primeira vez que eu o encontrei foi no teatrinho de bonecos no Bosque Gutierrez e lá ele me fez perceber o quanto era importante fazer este resgate.”

Euclides Coelho de Souza, o Dadá,  na década de 60 era estudante de engenharia e secretário da juventude comunista. Emocionado, durante o bate papo, ele contou alguns capítulos desta história protagonizada por ele e seus amigos, e enfatizou a importância da pesquisa feita por Ana Carolina Caldas. “Isto é importante que vá para todos os lugares e que possa inspirar a juventude de hoje que anda um pouco apática.” disse. Euclides também homenageou o amigo Walmor Marcelino (falecido em 2010) que ao lado dele  conduziu o movimento de teatro político.  “Era alguém que eu gostaria que estivesse aqui, ele foi nosso professor”

” Na verdade isso começou com a invasão americana em Cuba; e então, como reagir? Os jornais, na maioria reacionários, não falavam nada sobre Cuba. Tinha uma advogada no Partido Comunista, a Terezinha Garcia, que era metida assim com os intelectuais, chegou um dia para mim e me disse: “Olha, li no “O Semanário” uma peça de teatro chamada “Pátria o Muerte”, do Vianinha, vamos montar esta peça!” Montamos a peça na sede do Partido Comunista. Um cara conseguiu um caminhão para gente ir em cima e apresentar na rua. E tinham muitos artistas que trabalhavam com o Maranhão, que era do Teatro dos Estudantes do Paraná e era da base do partido. O que eu fiz? Eu era o secretário da Juventude do Partido. Falei com o Secretário  Geral  e disse a ele: Vou chamar todos eles e colocar aqui. Veio todo mundo e começamos os ensaios.

Eu que era apenas o coordenador daquilo tudo passei a ator. Na peça tinha o Fidel Castro e o cara que ia fazer o Fidel brigou com o diretor. Faltando dois dias para estrear a peça o rapaz foi embora. Eu fui a vítima e tive que ser o Fidel. Tinha pelado o cabelo, estava sem barba… lá vou eu ser o Fidel Castro, o que me valeu alguns dias de cadeia só por isso (…)” – Euclides Coelho de Souza Responsável pela reencenação da peça Os Justos e a trilha sonora para o documentário, o diretor e músico Octávio Camargo falou sobre esta experiência e também sobre o conceito de teatro político. Para Octavio, “o texto Os Justos encenado pelo grupo de teatro político em 1960 traduz muitos dos temas que permanecem como preocupações e dilemas da sociedade. Um texto que fala de opressão e da luta por justiça social.”  O conceito de teatro político se traduz para o artista, segundo Octávio, “como a própria expressão e olhar que dá ao texto e o que vive em seu momento. Encenar Os Justos nos anos 60 logo após a Revolução Cubana é diferente de fazer agora em 2010. Este é o posicionamento político que se dá. “

Para contextualizar o sentido da arte política, Ana Carolina finalizou o bate papo com um depoimento de Diego Rivera – pintor que foi filiado ao PC mexicano. Em um manifesto escrito em 1938 ao partido, ele escreve:  “pela liberdade de criação não tratamos , de modo algum, de justificar o indiferentismo político e que está muito distante de nossa mente querer ressuscitar uma suposta “arte pura” que, ordinariamente, serve aos fins impuros da reação. Não. Temos uma idéia demasiado alta da função da arte para negar-lhe influência sobre a sorte da sociedade. Consideramos que a tarefa suprema da arte, em nossa época, é participar consciente e ativamente na preparação da revolução. Entretanto, o artista só pode servir na luta emancipadora se se deixou penetrar subjetivamente por seu conteúdo social e individual, se levou a seus nervos o sentido e o drama daquela e se trata livremente de dar uma encarnação artística a seu modo interior.”

Como parte do projeto, há também uma exposição de painéis textuais que conta cronologicamente e de forma didática a história sobre o teatro político em Curitiba. Após a estréia, o documentário e exposição foram apresentados para alunos de ensino médio em colégios estaduais da cidade.

Fotos: Gilson Camargo


Créditos do Filme

Direção e edição: Tulio Viaro

Pesquisa e roteiro: Ana Carolina Caldas

Montagem: Adalgisa Lacerda

Fotografia: Gilson Camargo

Realização: Lei Municipal de Incentivo a cultura

Participação

Adair Chevonicka

Alcidino Bittencourt

Artur Poerner

Edésio Passos

Euclides Coelho de Souza

Ferreira Gullar

Marly Genari

Mazza

René Dotti

Zélia Passos

Elenco da peça Os Justos

Chiris Gomes

Chiristiane Macedo

Maureen Miranda

Direção: Octávio Camargo

Cenário e figurino: Marcelo Scalzo

Trilha Sonora

Octavio Camargo ( piano)

Endrigo Bettega ( bateria)

Vozes:

Chiris Gomes

Troy Rossilho

Helena Portela

Katia Horn

Luiz Felipe Leprevost

Alexandre França

Agradecimentos

Fundação Cultural de Curitiba – Cinemateca- Biblioteca Pública do Paraná – Funarte – Lu Rufalco (Teatro Guaíra) – Edson Bueno – Clinica Pro Music


2 Respostas

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  1. Xanda Lemos said, on 10/11/2010 at 14:53

    Que maravilha! Adoraria estar em Curitiba para presenciar este evento. Como posso ter acesso ao documentario? Estou estudando na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e creio que este material me ajudaria muito na minha tese de mestrado.

  2. Robson said, on 30/10/2010 at 17:12

    Excelente trabalho de Ana Carolina. Após um longo processo de produção pôde colher os bons frutos de todo o trabalho. Parabéns!
    Fizemos uma reportagem sobre a Ana e seu documentário recém lançado. Link para ver a matéria: http://cineacademia.blogspot.com/2010/10/normal-0-21-false-false-false-pt-br-x.html


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